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A doença causada pelo SARS-Cov2 (COVID-19) causa efeitos deletérios em pacientes contaminados, principalmente naqueles que evoluem com a forma mais grave. Estes apresentam uma doença crítica aguda que leva tempo prolongado de internação na unidade de terapia intensiva (UTI), às vezes necessitando de ventilação mecânica invasiva por tempo prolongado, o que acarretará em uma redução na qualidade de vida após a alta hospitalar.
A maior parte dos pacientes infectados pela COVID-19 que evolui com a forma grave e necessitam de internação em UTI acabam apresentando quadro de insuficiência respiratória aguda, evoluindo com a síndrome do desconforto respiratório agudo (SDRA). Este é um dos principais fatores para o desenvolvimento da fraqueza muscular na Covid-19, adquirida nas unidades de terapia intensiva (FAUTI).
Além disso, a doença desenvolve um processo inflamatório que acarreta em um mecanismo de perda de massa muscular. Associado a isto, a ventilação mecânica invasiva prolongada, a necessidade de sedação e de bloqueador neuromuscular por tempo prolongado e o imobilismo contribuem para uma perda ainda maior de força muscular e o desenvolvimento da FAUTI. Este é um ciclo considerado vicioso, que, caso não seja interrompido, pode acarretar em efeitos deletérios a longo prazo.
A comunidade científica e médica tem dedicado esforços sem precedentes em estudos direcionados para sequenciar, diagnosticar, tratar e prevenir a COVID-19. No entanto, os efeitos a longo prazo após a fase aguda da doença ainda não foram totalmente demonstrados.
Mobilização precoce e a COVID-19
Sintomas, sinais ou parâmetros clínicos anormais que persistem duas ou mais semanas após o início de COVID-19 e que não permitam um retorno às atividades de vida diária podem ser potencialmente considerados efeitos de longo prazo da doença.
Embora alguns efeitos duradouros relatados têm acometido principalmente os sobreviventes da forma grave da doença, também ocorrem indivíduos com infecção leve que não necessitam de internação hospitalar. Ainda não foi relacionado quais os fatores (sexo, gênero, idade, etnia, condições de saúde subjacentes, dose viral ou progressão de COVID-19) afetam o desenvolvimento dos efeitos de longo prazo dO VÍRUS.
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Nesse contexto, sugere-se a abordagem precoce no tratamento da Covid-19 em pacientes internados que podem cursar com desenvolvimento de fraqueza muscular adquirida na UTI (FAUTI), prevenindo que suas consequências se estendam além do período de internação.
Todos fatores que aumentam a chance de perda muscular devem ser utilizados como forma de avaliação e triagem dos pacientes com COVID-19, para que seja iniciado de forma precoce, o processo de reabilitação, por meio de protocolos de mobilização precoce (MP), evitando e/ou minimizando as complicações e o declínio funcional.
Com o objetivo de minimizar os efeitos a curto e longo prazo provocados pelo vírus, sugere-se que intervenções de reabilitação precoce nesses pacientes sejam iniciadas durante a internação hospitalar e tenham continuidade após a alta. Programas especializados de reabilitação vem sendo desenvolvidos para atendimento a estes pacientes, principalmente naqueles que evoluírem com disfunção muscular severa, fadiga e dispneia, visando à melhora da funcionalidade e da qualidade de vida, bem como prevenir a readmissão desses pacientes ao ambiente hospitalar.
A reabilitação deve iniciar precocemente na UTI, permitindo a liberação da ventilação mecânica, continuando com o objetivo de recuperação centrada no paciente, que pode levar semanas, meses ou vários anos para atingir.
Papel do fisioterapeuta
Os fisioterapeutas possuem um papel fundamental nas intervenções de mobilização, exercício e reabilitação, principalmente em pacientes com risco de desenvolver declínio funcional, tanto no ambiente intrahospitalar, como no ambiente ambulatorial.
As altas taxas de readmissão hospitalar, reinfecção e mortalidade pré-existentes após doença crítica são os principais impulsionadores para garantir que os processos de recuperação e reabilitação sejam necessários, bem coordenados e executados por profissionais com conhecimento de criticidade.
No momento, não está claro qual proporção de pacientes exigirá cuidados especializados para reabilitação dos acometimentos motores dos pacientes de COVID-19. Pacientes acometidos pela doença e com permanência prolongada na UTI adquiriram fraqueza e outros problemas neurológicos.
A reabilitação pode não ser concluída em um ambiente hospitalar apenas, pois a recuperação da capacidade funcional é demorada e requer acompanhamento específico e prolongado de fisioterapeutas especializados. Ainda assim, infelizmente, uma proporção nunca se recuperará e exigirá suporte contínuo e neuropaliativo.
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REFERÊNCIAS
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