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No dia 25 de Outubro é comemorado o Dia do Dentista!
Inicialmente, a integração da odontologia às equipes multidisciplinares nas UTI’s teve como principal objetivo a prevenção de agravos à saúde, com redução dos indicadores de PAV, através da incorporação de cuidados bucais nos bundles, especificamente a higiene bucal. A literatura científica mostrou com evidência os resultados da incorporação desse cuidado, contribuindo em até 40% de redução da PAV (SOUZA et al., 2013; SHI et al., 2013; HUA et al., 2016).
A permanência do profissional da odontologia nas UTI’s possibilitou a ampliação das ações em função da demanda na identificação e abordagem dos focos infecciosos relacionados à cavidade bucal na recuperação dos pacientes.
As manifestações bucais são muito comuns e podem ser os primeiros sinais e sintomas de doenças ou de alterações sistêmicas. A cavidade bucal representa um reservatório de microrganismos importante e podemos associar condições sistêmicas, como doenças cardiovasculares, endocardite infecciosa, infecções de próteses articulares, mal controle glicêmico de diabéticos e sepses (RIBEIRO et al., 2012; MORAIS & SILVA, 2015; SOUZA et al.,2016). Além das infecções, as doenças autoimunes e as síndromes podem ter manifestações específicas na cavidade bucal (RIBEIRO et al., 2012).
As infecções bucais, como cáries, abscessos dentais e periodontais, pericoronarites, mucosites, peri-implantites, osteonecroses (quimio ou radioinduzidas) e infecções oportunistas interferem negativamente na saúde sistêmica do paciente (MORAIS & SILVA, 2015; SOUZA & MORAIS, 2014). Tais infecções podem ser agudas ou crônicas e representam importantes fatores de risco podendo originar “infecções metastáticas” por meio das bacteremias (MASSUDA et al., 2011; CHUNDURI et al., 2012). Estudos recentes dão ênfase à doença periodontal, a qual encontra o tecido periodontal altamente vascularizado e seu epitélio gengival pode apresentar ulcerado, permitindo uma íntima relação do biofilme microbiano com os capilares sanguíneos e aumentando, assim, o risco de bacteremias (TOMÁS et al., 2012; VIEIRA et al., 2015).
A interface da saúde bucal com doenças sistêmicas já está bem estabelecida na cardiologia, oncologia, neurologia, endocrinologia, nefrologia, pré e pós–transplantes hematopoiéticos (transplante de medula óssea – TMO) e de órgãos sólidos, e sabe-se que condições bucais desfavoráveis podem influenciar o prognóstico do paciente.
A conduta clínica recomenda a eliminação do fator etiológico com tratamentos endodôntico, periodontal e/ou até mesmo a extração dentária. Nos casos mais graves, a intervenção cirúrgica compreende não só a eliminação do foco causal como também a drenagem do abscesso e o desbridamento do tecido necrótico. As condições locais e sistêmicas do paciente, a localização do processo e os microrganismos atuantes vão definir a necessidade de antibioticoterapia (PURICELLI, 2014; PURICELLI et al, 2015).
Referências
SOUZA AF, GUIMARÃES AC, FERREIRA EF. Evaluation of the implementation of new protocol of oral hygiene in an intensive care center for prevention of pneumonia associated with mechanical ventilation. REME • Rev Min Enferm.2013 jan/mar; 17(1): 185-191.
SHI Z, XIE H, WANG P, ZHANG Q, WU Y, CHEN E, NG L, WORTHINGTON HV, NEEDLEMAN I, FURNESS S. Oral hygiene care for critically ill patients to prevent ventilator-associated pneumonia. Cochrane Data base of Systematic Reviews 2013, Issue8. Art. NO.:CD008367.
HUA F, XIE H, WORTHINGTON HV, FURNESS S, ZHANGQ, LI C. Oral hygiene carefor critically ill patients to prevent ventilator-associated pneumonia. Cochrane Data base of Systematic Reviews 2016,Issue10. Art.No.:CD008367.
Morais TMN, Silva A. Fundamentos da Odontologia em Ambiente Hospitalar/UTI. 1ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2015.
Ribeiro EB, et al. Importância do reconhecimento das manifestações bucais de doenças e de condições sistêmicas pelos profissionais de saúde com atribuição de diagnóstico. Odonto. 2012;20(39):61-70.
Souza AF, Morais TMN. Cuidados com a cavidade bucal. In: Terapia Nutricional no Paciente Grave/editor Ricardo Rosenfeld. 1ed. São Paulo: Atheneu Editora, 2014. p.203-10.
Masuda K, Nemoto H, Nakano K, Naka S, Ooshima T. Amoxicillin-resistant oral streptococci identified in dental plaque specimens from healthy Japanese adults. J Cardiol 2012;59(3):285-290
Chunduri NS, Madasu K, Goteki VR, Karpe T, Reddy H. Evaluation of bacterial spectrum of orofacial infections and their antibiotic susceptibility. Ann Maxillofac Surg 2012 Jan; 2(1):46-50.
Tomás I, Diz P, Tobías A, Scully C, Donos N. Periodontal health status and bacteraemia from daily oral activities: systematic review/meta-analysis. J Clin Periodontol 2012; 39:213–228.
Vieira CAP, Magalhães CB, Hartenbach FARR, Martins SR, Maciel SBC, Periodontaldisease-associated biofilm: A reservoir for pathogens of medical importance. Microbial Pathogenesis 2015 [in press].
Puricelli E. Tecnica Anestésica, Exodontia e Cirurgia Dentoalveolar. In: Kriger L, Moysés SJ, Moysés ST. Coordenadora Maria Celeste Morita, ABENO, Grupo A, São Paulo, 2014.
Puricelli E, Ponzoni D, Munaretto JC, Franke C. Infecções na Cavidade Bucal. In: Morais TM, Silva A.Fundamentos da Odontologia em Ambiente Hospitalar/UTI, 1 ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2015. p.33-48.
Alessandra Figueiredo de Souza
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